sexta-feira, 20 de julho de 2012

A UNESCO e o TUA

Bem pode o laureado Souto Moura, arquitecto muito apreciado e distinguido nos Foruns internacionais, puxar pela  cabeça, esmerar-se e caprichar no seu projecto de tentar ocultar a gigantesca parede de betão que a poderosa EDP, contra ventos e marés sob os protestos de esclarecidos resistentes dos Movimentos Cívicos e insuspeitos órgãos de informação como é exemplo este jornal, decidiu construir na foz do rio Tua em arriscada e porventura negligente colisão com o estatuto do Douro Património Mundial.
Ainda que a sua obra possa ser aplaudida, cujo preço os portugueses por enquanto desconhecem mas que por certo não contemplará nenhum desconto ao dono da encomenda, ela será sempre um bonito penso de proteção em cima duma cicatriz testemunha de má e insensata intervenção do seu executor!
Chegados ao epílogo deste tempestuoso romance configurado na construção apressada duma barragem hidro-eléctrica no ponto onde o sofrido rio Tua se entrega extenuado no portentoso Douro, já não vale a pena argumentar com a destruição dum vale único pela sua singular beleza, nem da sua linha ferroviária orgulho da Engenharia portuguesa e que com alguma imaginação poderia ser a alavanca para o tão necessário quanto vital desenvolvimento sustentado da região empobrecida que parece não causar preocupação aos sucessivos governos da República.    Como também não vale a pena trazer de novo à baila os poderosos argumentos fruto de cuidados estudos universitários que demonstram ser dispensável a intervenção no rio Tua como fonte de aumento de produção energética.   
O que está agora em apreço é a anunciada visita da Unesco, agência das Nações Unidas para os assuntos da ciência e cultura com grande predomínio dos desafios ambientais e que deu finalmente um sinal de alerta recomendando o “Ralentissement” das obras que a EDP, frenética e arrogante, desencadeou num abrir e fechar de olhos! Da Unesco, todos esperamos uma decisão transparente, alheia a pressões e que defenda os valores um Património que sendo único, é da Humanidade e por isso de todos nós.
 É que gato escondido com rabo de fora, não é do agrado de ninguém, nem é para os tempos que correm. O turismo internacional que ora invadiu o Douro, “a realidade mais séria que temos entre nós,”(1) e que tanto ajuda as nossas pobres finanças, não aceita nem perdoará beliscaduras na imaculada simbiose da natureza e do homem. Ainda que tenha a assinatura do melancólico e criativo Souto Moura! 

Mirandela, 17-7-2012
José Manuel Pavão

(1) Miguel Torga

1 comentário:

Maria Aurora Pires Marques disse...

sem comentários.....
ou
comentários para quê????
parabéns pelo texto