quinta-feira, 2 de abril de 2009

Chegou a primavera à Linha do Tua

Pode-se pensar que as minhas recomendações para fazer caminhadas ao longo da Linha do Tua são fruto de alguma consulta na Internet, usando o Google. Não. Já percorri (a pé) cada metro da linha entre Foz-Tua e Mirandela, no mínimo 3 vezes e em alguns lugares 6 vezes!
Pensei receber a Primavera a caminhar ao longo da linha, e foi isso que eu fiz, dia 21 de Março. Escolhi um percurso mais ou menos longo, Brunheda- Foz-Tua.
Desloquei-me de carro até à ponte da Brunheda. O céu estava limpo, fazia frio e havia alguma neblina que se manteve durante todo o dia. Cheguei à linha às 10 horas da manhã, o que me parecia muito bom uma vez que apenas necessitava de estar em Foz-Tua às 18 horas, tinha 8 horas para caminhar.
Nos primeiros quilómetros, e depois de passar a zona do último acidente, apercebi-me que têm sido feitos bastantes melhoramentos na linha. Sempre pensei que aqui estava um dos pontos negros da via, mas, nesta caminhada, fiquei com uma melhor ideia. A não ser a curiosidade de alguns chapins nada chamou a minha atenção nos primeiros metros. O sol não tinha altura para iluminar a linha, reflectindo-se apenas nas águas já transparentes do Tua. Foi pelo quilómetro 19.º que comecei a entusiasmar-me com a flora que não esperou pela chegada da primavera para despertar em bonitas cores.
No apeadeiro de Tralhão parei um pouco. Aproveitei para me pôr mais á vontade largando as calças e ficando em calções. Fiquei a saber que andaram a medir as casas e os muros juntos de todas as estações e apeadeiros. Pretendem reparar os telhados e pintar tudo!!!
Pouco depois encontrei mais uma daquelas prospecções enigmáticas. Retiram uma travessa e abrem um orifício no centro da linha. Penso que o objectivo é avaliar a consistência do terreno. Vi os furos que já me tinham chamado à atenção em viagens anteriores, mas não vi nenhuma máquina.
Pouco depois encontrei alguns pés de buxo (Buxus sempervirens), muito abundante no Rio Sabor mas que nunca me tinha chamado à atenção aqui no Tua. Também antes de chegar a S. Lourenço encontrei os primeiros pés de Jacinto-dos-campos (Hyacinthoides vicentina). O meu entusiasmo foi grande, e ainda mais porque fui encontrando cada vez mais, mesmo até Foz-Tua!Quando cheguei ao S. Lourenço decidi subir às termas. Nas três vezes que já aqui passei a pé nunca o tinha feito. Junto ao apeadeiro havia muita água no chão e, imagine-se, havia também um cabo eléctrico, no chão, com corrente! O som semelhante a uma frigideira ouvia-se a vários metros! As termas pereceram-me paradas no tempo. Recordava-me delas há quase 20 anos atrás. Há água canalizada, um pré-fabricado para receber os banhistas e uma estátua em granito que foi a única forma humana que encontrei de resto, nada mudou.
Visitei o tanque, guardado pelo S. Lourenço, fiz um passeio por entre as casas e decidi sentar-me à sombra de uma árvore para comer. Já passava de 1 e meia da tarde quando recomecei a caminhar. De novo na linha, acelerei o passo. Já tinham passado mais de três horas e apenas tinha percorrido pouco mais de 5 quilómetros! Impus um bom ritmo à caminhada só fazendo curtas paragens para fotografar a flora ou subir a algum rochedo para fotografar a Linha. Tinham passado dois meses desde a minha última passagem no local. O rio levava um caudal menor e a água reflectiam um azul profundo, ao contrário da água cor de chocolate do mês de Janeiro.
O céu perdeu a cor e os rochedos semeavam zonas de sombra na linha. Tornou-se complicado fotografar. Se a máquina está regulada para fotografar para jusante, de frente para o sol, não é possível fazer nada de jeito para montante. Gosto de regular os parâmetros da fotografia manualmente, mas é preciso tempo.
Quando me aproximava dos últimos quilómetros também o sol de despedia do vale. Respirava-se uma atmosfera calma aquecida pelos tons dourados do final da tarde. Tive ainda tempo para abandonar a linha e ir até à ponte rodoviária fotografar o viaduto das Presas.
Já com os pés bastante doridos caminhei para a estação do Tua. Ainda esperei que chegassem os dois comboios da Linha do Douro, um vindo do Pocinho e outro vindo do Porto, só depois o táxi parte fazendo o serviço da Linha do Tua até ao Cachão.

3 comentários:

marie disse...

Belíssimas imagens essas!
Marie

Alexandrina Areias disse...

O texto como sempre... muito bem escrito... e as fotos... essas estão excelntes!!! 5*****
Cumprimentos,

AA

Anónimo disse...

Como chefe de estação e de combóios,na Estrela de Evora,durante vinte e cinco anos,não sabia que a LINHA DO TUA,era a mais bela de Portugal e a terceira no Mundo.Uma maravilha,as fotos de toda a paisagem,ao longo de 133km.Destruir uma linha do interior de Portugal,que servia as populações,é um crime ediondo.O COMBÒIO È O TRANSPORTE DO FUTURO.E` O TRANSPORTE MAIS SEGURO NO MUNDO.Para os senhores que não percebem de combóios!A LINHA DO TUA,renovada já com travessas de betão,cerca de 270000,as estações,apeadeiros,pontes,tuneis,reparados,a segurança dos combóios,é mais do dobro.A bitola da linha não abre um centimetro.A velocidade pode aumentar,para cerca de 60km/h ou mais.Uma barragem a produzir 2% de eletrecidade,uma insignificancia,não justifica destruir a mais bela linha de PORTUGAL.Enquanto nuestros hermanos,renovaram 1500km de ramais,em Portugal,abandonaram perto de 800km de ramais no interior,dos mais rentáveis,como Moura,Reguengos,Evora,Portalegre.È urgente em tempo de crise renovar a REDE FERROVIÀRIA DE PORTUGAL,com travessas de betão.AS ESTRADAS SÃO CEMITÈRIOS DE PORTUGAL.Por favor não comparem um combóio,com um autocarro.Tenho dito.Mauricio Arrais.Abrantes.