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quarta-feira, 6 de março de 2013

Percursos pedestres na Linha do Tua

Perto do apeadeiro de Castanheiro
Continuo a receber muitas mensagens de pessoas interessadas em percorrer a Linha do Tua a pé, em parte ou na totalidade. A maior parte das perguntas repetem-se, e basta uma pequena procura aqui no blogue para as esclarecer.
Uma das perguntas mais frequentes prende-se com os transportes, de forma a puder voltar ao ponto de partida. Estamos a falar de um percurso único, talhado na rocha, com acessos muitos difíceis ou impossíveis ao longo de muitos quilómetros (à exceção da própria linha).

Como voltar ao local de início da caminha, onde ficou o carro? 
Ou se utilizam dois automóveis, colocando um no final da caminhada, seguindo noutro para o início, ou se aproveita o serviço de táxis ainda em funcionamento, em substituição da automotora da linha do Tua, ou se tem que chamar um táxi exclusivo (o que pode ficar bastante caro). Esqueçam os autocarros, levaria mais um dia a voltar ao local de partida, nos poucos pontos onde isso é possível. Não há transportes alternativos, por isso é que alinha é importante.

Partindo de Foz Tua
 Não é aconselhável partir de Foz Tua, mas sim da aldeia de Fiolhal.
Não há transporte até ao Fiolhal e o táxi que faz o serviço da linha também não passa lá, porque segue outro trajeto (por Ribalonga). Alternativas: seguir pela estrada de Foz Tua a Fiolhal (trajeto difícil, longo e que acarreta grande perda de tempo), ou se arranja uma boleia (seria a melhor opção) ou se aluga um táxi (não são muitos quilómetros, o declive é que é acentuado).
Há um caminho bastante circulado que liga a aldeia do Fiolhal à linha do Tua, começando a caminhada ao longo da linha exatamente ao quilómetro 3. Não é possível fazer de outra forma porque a linha é está intransitável no local das obras (embora ainda não tenha sido aplicado nenhum betão).
Sobre este trajeto já escrevi há algum tempo atrás, aqui.

Táxi
 O serviços de táxi faz o circuito Foz Tua - Cachão e vice-versa. Não cobra bilhetes, porque o bilhete é comprado no local de embarque, diretamente para o destino. Quem compra, por exemplo, um bilhete Porto-Mirandela, já está a pagar o trajeto que é feito pelo táxi. Quem inicia o percurso em Foz Tua, ou ao longo da Linha do Tua até Cachão não tem hipótese de comparar bilhete, pelo que, viaja literalmente de borla(!). Já no trajeto descendente, iniciando a viagem no metro de Mirandela, deve comprar bilhete, na estação de Mirandela (e este já vai incluir o táxi).
Túnel de Tralhariz
Confirmei esta semana junto do posto de Turismo de Mirandela que o serviço está operacional e deixo no final deste texto uma ligação para os horários atuais.

Onde se apanha o Táxi?
O táxi apenas tem paragens em Foz Tua, Pombal (na aldeia), Brunheda (junto ao caminho de acesso à estação), Abreiro (na estrada nacional, junto ao caminho da estação) e no Cachão (mesmo na estação). Quer em Brunheda, quer em Abreiro, quem estiver na estação corre o risco de ficar em terra, pois não vê passar o táxi (é uma carrinha de 9 lugares).

Qual a zona mais bonita?
Quando me pedem a opinião sobre o troço mais interessante, ou mais fácil, etc. a minha resposta nunca é simples: gostos não se discutem e, na minha opinião, muita coisa depende da estação do ano. Uma vez que são os primeiros 16 km da linha que vão ficar submersos, parece-me lógico que haja prioridade em percorrer esses quilómetros. Os restantes poderão ser percorridos mais tarde.
Próximo da estação de Abreiro
Para quem goste de caminhadas mais longas, poderá fazer Foz Tua - Brunheda (cerca de 21 Km). Para quem não arrisque tanto e queira fazer um pequeno passeio poderá apreciar Abreiro-Ribeirinha com regresso a Abreiro, uma vez que são poucos quilómetros. Estão na margem direita do blogue alguns exemplos teóricos e outros já realizados, que servem de exemplo.

Subir ou descer?  
 Na minha ideia o percurso descendente ou ascendente depende de vários fatores: disponibilidade dos transportes e conjugação com o serviço de táxi; hora do dia, uma vez que influencia a posição do sol e, obviamente as fotografias. Caminhando para jusante vai-se em direção ao sol.
Há outro fator interessante: se a caminhada for mais longa, os quilómetros iniciais são sempre muito mais apreciados do que os finais, quando o cansaço já marca presença ou até estamos a "lutar contra o relógio".

Há locais difíceis ou perigosos?
Quanto aos túneis, fazem-se bem sem lanterna.  Também não há pontes altas, mas depende da sensibilidade. O local mais assustador seria ao quilómetro 1,4 (viaduto das Presas), mas é onde não se pode passar. O maior perigo é mesmo o de caminhar sobre a gravilha, que pode maçar os pés ou causar alguma entorse. Atenção que as travessas molhadas tornam-se muito escorregadias.

Espero ter respondido à maior parte das questões.
Não se esqueçam de me enviar algumas fotografias e dois ou três parágrafos sobre a aventura.

Horário dos Táxis e do Metro de Mirandela


terça-feira, 12 de junho de 2012

Vale do Tua visto do ar (1/5)

 Nos próximos dias irei publicar um conjunto de fotografias de Alberto Aroso, realizadas numa viagem de helicóptero, em 2005, percorrendo o vale do Tua a Mirandela. O autor autorizou a publicação das fotografias no Blogue, o que me deixou bastante satisfeito. Esta é uma visão do vale pouco fotografada, quer por mim quer pelos restantes entusiasta da Linha, do Rio e do Vale que o têm percorrido nos últimos tempos.
Pelo aspeto da paisagem e pelo caudal do rio, as imagens devem ter sido obtidas em pleno Verão.
Na primeira fotografia vê-se S. Mamede de Riba Tua no alto da encosta. O troço da linha que se avista é anterior à apeadeiro de Tralhariz, conseguindo distinguir-se a entrada do túnel da Alvela ou de Tralhariz. O apeadeiro está escondido numa curva.
Na segunda fotografia nota-se a entrada zona mais difícil de abertura da linha, local onde existem dois túneis e um viaduto(Quilómetro 5º). Não chega a ver-se o 1.º túnel, das Fragas Más I. 
A terceira fotografia foi tirada ao ao quilómetro 7, apanhando a zona do Apeadeiro do Castanheiro. A construção não é visível porque está completamente encaixada na encosta mas. No rio há uma pequena praia de areia branca muito procurada por banhistas e pescadores. Também existiram algumas azenhas neste local,
A quarta fotografia penso que é a pequena distância da anterior. Na zona inferior vê-se a pequena praia de que falei.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Caminhadas na Linha do Tua - Informações

Amieiro/Santa Luzia
 Tenho recebido muitos pedidos de informação de pessoas que pretendem percorrer a Linha do Tua a pé. Está a começar uma época fantástica para o fazer. As perguntas prendem-se essencialmente com a questão das obras no local da barragem e com o horário e funcionamento dos transportes alternativos entre Foz-Tua e Mirandela.
A informação mais atualizada que consegui recolher é esta:
Possível percurso
Está fora de questão atravessar a pé a zona das obras da barragem. Além de proibido é perigoso e não podemos esquecer que ainda há pouco tempo morreram trabalhadores no local.
O fim de semana passado fiz uma caminhada que me permitiu estudar uma alternativa para contornar esta situação. Uma das possibilidades é saltar os três primeiros quilómetros da linha, que tinham uma beleza especial e obras de arte que nunca mais vão poder ser apreciadas, mas onde decorrem as principais obras. A interversão já se estende para além destes 3 primeiros quilómetros. O percurso pela linha, quando for ascendente, começará entre os terceiro e o quarto quilómetro, podendo estender-se até Mirandela, com bastante cuidado em Brunheda onde também decorrem obras da construção de uma ponte rodoviária sobre o rio Tua (IC5). Infelizmente, nos primeiros quilómetros (partindo do Tua), o relevo não ajuda muito (mas também é aí que está a singularidade do local) sendo necessário percorrer mais de 6 km para chegar à linha. Em caminhadas descendentes (em direção ao Tua) também pode ser usado o mesmo percurso, tomando o caminho que indico no mapa, logo depois do apeadeiro de Tralhariz, exatamente no local onde terminou o arranque dos carris.
Zona de encontro entre o caminho indicado e a Linha do Tua
A ligação entre Foz-Tua e Fiolhal não é feita por nenhum transporte público. Ou se utiliza transporte próprio, ou se recorre ao serviço de táxis (Táxi do Castanheiro 278 685 241). A rede de telemóvel é muito deficiente pelo que o contacto com algum táxi deve ser feito previamente.
A ligação entre Foz-Tua e Fiolhal pela estrada Nacional 214 pode ser feita de carro ligeiro ou a pé. Se for em caminhada podem ser feitos alguns atalhos, mas vão despender muita energia e tempo, preciosos para quem vai caminhar quase duas dezenas de quilómetros. A parte entre Fiolhal e a Linha pode ser feito por veículos todo-terreno. O meu conselho é que a caminhada comece logo no Fiolhal. O percurso é descendente, bonito e compensa um pouco a impossibilidade de se passar na zona das obras.
Tunel/Viaduto das Presas - Zona das obras
O Metro de Mirandela continua em funcionamento até ao Cachão e o restante serviço alternativo até Foz-Tua continua ativo (não sei até quando). Uma das confusões para quem não conhece o traçado da linha é pensar que este serviço acompanha a Linha. É impossível acompanhar o traçado da Linha, e, por isso, é que ela tão importante. O táxi aproxima-se das principais estações e apeadeiros, mas passa longe de muitos outros. Entre Foz-Tua e Brunheda (21 km) não há possibilidade de aceder a este serviço.
Outra questão que me é colocada frequentemente é sobre o alojamento ou a possibilidade de acampar. Não há nenhuma unidade hoteleira nas proximidades de linha, à exceção de Foz-Tua (Casa do Tua), Vilarinho das Azenhas e Mirandela. As restantes alternativas exigem sempre deslocação de mais de uma dezena de quilómetros para Alijó, Carrazeda de Ansiães, Tralhariz, Pombal de Ansiães, Vilarinho da Castanheira, etc.
Horários da Agenda Cultural de Mirandela de Janeiro de 2012
Para acampar ao longo da linha, depende dos hábitos e das necessidades de cada um. As estações não oferecem grandes ou nenhumas facilidades, embora nalgumas seja possível utilizar espaços cobertos, no caso de mau tempo. Se eu pensasse em acampar escolheria S. Lourenço (há banhos e água potável) e/ou Brunheda.
Quando fizerem caminhadas na Linha do Tua (há uma grande hipótese de me encontrarem), não se esqueçam de enviar para este blogue - A LINHA É TUA, algumas fotografias e parágrafos para partilhar com o mundo quanto é belo este recanto vendido à EDP (ou será que foi à China?). Fico à espera.

Posto de Turismo de Mirandela (Número Verde): 800 300 278
Táxi (Castanheiro): 278 685 241
Casa do Tua: 278 681 116
Hotel Casal de Tralhariz: 278 681 042
Casa Dona Urraca: 919 700 83
Casa das Azenhas: 278 511 129
Hotel Rural Flor do Monte: 278 660 010

GPSies - Tua_LinhadoTua

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Abraço ao Tua - Uma Linha, um destino

No dia 27 de Março estive em Foz-Tua para participar na iniciativa Abraço ao Tua. Num momento em que a economia domina todas as notícias e está na base das preocupações de todas as pessoas, um grupo de movimentos uniu-se para mostrarem que a defesa da Linha do Tua e do rio Tua não está esquecida. A iniciativa foi organizada pelo Movimento de Cidadãos em Defesa da Linha do Tua, a Associação dos Amigos do Vale do Rio Tua, a associação Campo Aberto, a associação GAIA, a COAGRET, o Movimento Cívico pela Linha do Tua e a associação ambientalista Quercus.
Além da crise, causaram também alguns constrangimentos, a mudança da hora, o estado do tempo, bastante instável, e a greve dos comboios que dificultou as deslocações de quem pretendia participar na iniciativa e pretendia deslocar-se para o Tua usando o caminho-de-ferro.
 
Fui dos primeiros a chegar ao Tua e fiquei bastante satisfeito quando se começou a juntar um bom grupo de pessoas, vindos dos lugares mais díspares do país. Quando entrámos para o autocarro que nos levaria a Castanheiro do Norte onde se iniciaria a caminha que integrava o programa, este ficou rapidamente cheio e foi necessário fazer uma segunda viagem.
Já há algum tempo de ansiava fazer o caminho entre o Castanheiro e a Linha do Tua a pé e foi bastante agradável faze-lo na companhia de mais de 70 pessoas das mais variadas idades e proveniências. Alguns dos rostos eram meus conhecidos, ou do concelho de Carrazeda de Ansiães ou de outros eventos em torno da Linha e do Vale do Tua. Dividi o tempo entre algumas conversas e arranques rápidos para tomar posição e tirar algumas fotografias ao grupo a caminhar na linha, coisa que raramente posso fazer quando faço caminhadas sozinho.
 
A descida até à estação do Castanheiro foi rápida. A inclinação é muita e todas caminhavam com bastante energia. Já se encontravam muitas espécies vegetais em flor e não faltavam motivos de interesse, aos mais curiosos. Depois de chegados à Linha, pensou-se em tirarmos uma fotografia de grupo. Foi necessário esperar bastante e os que já estavam na estação foram dispersando e aproveitaram para comerem alguma coisa.
A caminhada ao longo da linha iniciou-se já depois do meio-dia. Mesmo com o céu escuro que, de tempos a tempos, despejava algumas gotas de água sobre os caminhantes, a paisagem estava verdejante, salpicada de flores amarelas e rochas, com o rio azul com um caudal considerável.
Cada um ao seu ritmo, foi percorrendo o perto de 8 km que separam a estação do Castanheiro da foz do Tua. O grupo não voltou a juntar-se. Pensava eu que seria feita uma pausa para o almoço volante, algures perto da estação de Tralhariz, mas, para não se desperdiçar o tempo, o almoço teria lugar já no final da caminhada.
 
A zona dos túneis das Fragas Más e do viaduto despertam sempre muita admiração a quem aí passa pela primeira vez. Uma coisa é ouvir falar, ver um filme ou algumas fotografias, outra é percorrer a pé, passo a passo esta linha centenária rasgada a muito custo no granito puro e duro. Percorrer locais assim é uma terapia, para o corpo, e para a alma, porque a grandiosidade da natureza faz-nos sentir pequenos.
O vale é estreito e profundo, agreste e despovoado. Talvez por isso seja fácil “fácil” fazer aqui uma barragem. Mas, também aqui, as rochas e a linha não sabem nadar. Este é uma local para admirar, não para afogar. A prova de que locais assim atraem fomo-la tendo ao longo da caminhada, cruzando-nos com numerosos grupos que percorriam a linha em sentido contrário ao nosso. Mesmo nas condições mais adversas, as pessoas vêm Tua, percorrem quilómetros a pé, porque encontram aqui uma paisagem única, uma das maravilhas de Portugal.
 
Há cerca de um ano que não fazia este percurso da linha. Não são notórias quaisquer obras desde essa altura. Não esbarrei na tal pedra aqui colocada pelo chefe do governo. Além dos cerca de 3 quilómetros onde os carris foram arrancados e do estradão ilegalmente rasgado pela EDP, não são evidentes, felizmente, grandes alterações na garganta do rio.
Cheguei ao Tua, na companhia da minha esposa, que pela primeira vez me acompanhou numa caminhada ao longo da Linha do Tua, às 14 horas e 30 minutos. Descemos para junto do rio, junto da ponte rodoviária, e aí abrimos o nosso farnel para o almoço. Outros grupos juntaram-se a nós.
 
Às 15h30m começaram a juntar-se as pessoas sobre a ponte para o simbólico Abraço ao Tua. Chegaram mais pessoas, que não participaram na caminhada, vindas das aldeias afetadas pelo encerramento da Linha, como Brunheda e Codeçais. Do poder autárquico não vi ninguém. Está mais que sabido só podemos contar com os nossos representantes para dividirem entre si o bolo de uma tal Agência para o Desenvolvimento do Tua. É pena que alguns presidentes de câmara, no poder há décadas, apenas se lembrem do vale do Tua e da Linha do Tua quando veem acenar alguns milhões. Que fizeram até aqui? Quantas vezes se bateram junto do poder central para contrariar o crescente abandono a que a linha foi deixada? Ainda não há milhões, mas já há desacordo, e nos bastidores tomam-se posições para calar as vozes mais incómodas, ou que fazem mais ruído (ficamos agora nós sem saber com que intenção). Se já nos cai a cara de vergonha com a política nacional que arrasta o país para um futuro incerto, melhor não estamos com os que nos estão mais próximos, que não ouvem as populações que os elegeram.
 
A marcar uma posição política no local estive o Bloco de Esquerda, mas também o partido ecologista Os Verdes” estiveram solidários com a iniciativa.
Os meios de comunicação social no local foram escassos, com a presença da RTP e de alguns órgãos de comunicação social regionais do Porto e Vila Real, que eu me tenha apercebido.
 
As pessoas que uniam sobre a ponte rodoviária as duas margens do rio, deram as mãos e gritaram vivas à Linha e ao rio Tua, ao mesmo tempo que um grupo de jovens animava o ambiente com instrumentos de percussão. 
Após esse Abraço simbólico ao rio, as pessoas interessadas reuniram-se em assembleia popular junto à margem do rio para debaterem o problema. Houve também tempo para algumas demonstrações de desportos aquáticos.
 
Regressei a casa com a convicção de que ainda é possível parar este crime. Não é só o Vale do Tua que está em risco, o Douro Vinhateiro, Património Mundial e destino crescente de muitos turistas, também está ameaçado. Em vez da barragem, que apenas serve os interesses de uma empresa, o rio, e a linha do Tua, podem ser fatores de desenvolvimento, porta de entrada de turistas vindos de Espanha, canal de circulação de pessoas e bens que não é afetado pela geada ou neve. Há bons exemplos de explorações de linhas de montanha por toda a Europa, porque é que temos que seguir os maus?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Quilómetro 4

Ao quilómetro 4 entre a estação de Tralhariz e o Túnel das Fragas Más.

Audição Pública
sobre a Linha do Tua 
28 de Fevereiro (segunda-feira) 
18:00
antigo Infantário do Cachão
Cachão

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Linha do Tua desativada

Relativamente à linha do Tua, desactivada entre a barragem e a estação de Brunheda, será desenvolvido um Projecto de Mobilidade com um sistema multimodal. Serão implementados dois sistemas complementares de mobilidade, um destinado à mobilidade quotidiana e outro com finalidade turística.

Para este efeito, a EDP disponibilizará um montante máximo de €10 milhões destinado a alavancar o financiamento global das ações-âncora do projecto.

Entre as soluções previstas destacam-se a utilização do troço de via-férrea entre a Estação da Foz do Tua e a base da barragem; instalação de um funicular entre a base da barragem e o seu coroamento; transporte fluvial entre a barragem e Brunheda, e a construção de embarcadouros; e ainda a qualificação da infra-estrutura ferroviária a partir de Brunheda.

O serviço multimodal do Tua deverá ser explorado em regime de concessão

Fonte do Texto: Jornal Expresso

sábado, 16 de outubro de 2010

Tua: Barragem está definitivamente aprovada e a linha será submersa


Bragança, 16 out (Lusa) - A construção da barragem de Foz Tua está definitivamente aprovada, com a conclusão do processo de avaliação ambiental que impõe algumas condições à EDP, mas aprova o empreendimento e a consequente submersão da linha do Tua.
Notícia completa aqui.


Isto só em Portugal!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Os primeiros 4 quilómetros

Reuni algumas fotografias que tirei na caminhada de 21 de Março entre a estação de Foz-Tua e o apeadeiro de Tralhariz e fiz um pequeno vídeo. Esta é a zona que vai ser desactivada para permitir a movimentação de máquinas que vão trabalhar na barragem. A barragem não é um dado adquirido. Penso que os resultados eleitorais nas eleições que se aproximam podem ter um grande efeito. O voto ainda é uma arma.
O vídeo é uma pequena amostra da zona em risco.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Túnel de Tralhariz


O Túnel de Tralhariz encontra-se no 4.º quilómetro, muito próximo do apeadeiro com o mesmo nome. É em curva e tem 99 metros.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Foz Tua - Abreiro (Parte I)

18-07-2008 Entusiasmado com os percursos na Linha do Tua, decidi fazer mais uma caminhada, desta vez entre Foz-Tua e Abreiro. Ainda tinha na memória as fantásticas paisagens do dia 1 de Maio de 2008. No entanto, como continuei a interessar-me pela Linha, cheguei à conclusão de que houve uma série de coisas que me passaram desapercebidas. Também a paisagem devia estar bastante diferente. Toda a verdura de Abril e Maio já desapareceu, devendo estar tudo bem mais seco.
Este percurso colocou-me dois desafios: o primeiro foi o da distância, de Foz-Tua a Abreiro, são 29 quilómetros; o segundo foi a necessidade de levantar cedo, a automotora partia de Abreiro em direcção a Foz-Tua às 6:25 da manhã!

Acabo por encarar estas caminhadas como um desporto radical, levando cada etapa um pouco mais além, sentindo a adrenalina da aventura. Mesmo sem conseguir dormir grande coisa, antes das seis da manhã, já andava eu a tentar fotografar a noite, na estação de Abreiro. A automotora chegou por volta das seis e um quarto e os primeiros raios de sol, um pouco depois. Tinha grandes expectativas para fotografar o nascer do sol no vale da Linha do Tua, mas a desilusão foi grande. A luz reflectia-se nos vidros da automotora e o contraste de zonas de sombra com zonas de luz, não se compadeciam com o movimento da automotora, ainda que esta se desloque a pouca velocidade.
A animação chegou no apeadeiro de Codeçais, com uma idosa impaciente a rogar pragas ao maquinista e revisor. Estava com receio de perder a consulta, na Régua.
Quando chegámos ao Douro, foi como se as portas do céu se abrissem! O vale do Douro, de nascente para poente, era um rio de luz, fazendo jus ao seu nome, Rio Doiro. Sem pressas, percorri toda a estação, espreitando cada recanto. A luminosidade já permitia fotografar sem problemas. Preparado para a grande jornada, fui ao bar beber uma garrafa de água fresca. A água seria a minha maior preocupação na caminhada.
Às oito menos um quarto, coloquei-me junto ao quilómetro zero. Acho piada à placa do quilómetro zero! É o ponto de partida. Nos primeiros metros, mal consegui desviar os olhos do Douro. Que felicidade a destas pessoas que acordam todos os dias com este espectáculo!...
De repente, uma curva afastou o meu olhar, para outro vale, o Vale do Tua, mais agreste, mal iluminado ainda. - É por ali que eu quero ir.

O quilómetro um tem motivos de interesse suficientes para me fazerem esquecer o Douro: o viaduto e o túnel das Presas. Não fosse a ameaça que evidencia o estradão já aberto na outra margem do rio e sentir-me-ia a entrar no ventre da terra, deixando para trás a porta que se abre e nos mostra um vale cheio de luz. Depois de passar o túnel, o apito de um comboio fez-me olhar para trás. Um comboio de mercadorias atravessava o Rio Tua, na Linha do Douro.
Agora, com mais calma, podia fazer várias tentativas para acertar na fotografia. Esta é uma das situações em que os automatismos todos, de pouco valem, tive de fazer uso de alguma experiência para controlar o diafragma, não obedecendo ao fotómetro.
No início do quilómetro dois são visíveis os vestígios do último acidente havido na linha, com uma Dresina, no dia 10 de Abril. Estranho, este acidente. Neste local, parece impensável dever-se à queda de pedras, que é o perigo mais evidente.

Concentrei-me de novo na linha. Levantando os olhos, vê-se S. Mamede de Ribatua colocado sobre os montes. Parece ali posto para vigiar o rio, que se torce, preguiçoso, no seu lento despertar. A erva seca, atravessada pelos raios de sol, lembram-me campos de trigo de Van Gogh. Quando se pensa que a linha termina de encontro a uma rocha escondida nas sombras, uma nova curva leva-a um pouco mais à frente, num jogo perfeito com o rio. Quase sem dar conta cheguei ao apeadeiro de Tralhariz.

A passagem pelo Túnel de Tralhariz é mais um salto de espaços. Ficam para trás as calçadas com oliveiras, as vinhas tremendamente verdes, as copas esféricas das oliveiras. Espera-nos agora o reino das rochas, matéria prima de toda a criação. Aqui o rio teve dificuldade em abrir o seu caminho, sendo obrigado a descrever curvas mais pronunciadas mas estreitas, procurando desesperadamente o Douro.
Também os engenheiros da linha lutaram com imaginação, aproveitando cada metro, cada palmo, perfurando as entranhas das montanhas em vários pontos. Num ponto específico, a linha não tinha espaço. Colocaram-na sobre o vazio, criando o Viaduto das Fragas Más (que nome mais condizente!). Consultei o horário. Passava pouco das dez da manhã e eu tinha percorrido pouco mais de cinco quilómetros. O lugar é de eleição, decidi que ia esperar pela passagem da automotora. Como tive que esperar quase meia hora, aproveitei para procurar a melhor localização possível e depois descansei um pouco mordiscando uma doce maçã, sempre de olho na linha. A automotora ia sair do Túnel das Fragas Más I, passar sobre o viaduto e entrar no Túnel das Fragas Más II, em poucos segundos. Depois percorreria um largo espaço, dando-me tempo mais que suficiente, para múltiplas fotografias. A minha atenção, com um olho na linha e outro na maçã, era para apanhar a automotora no viaduto, entre os dois túneis.
O som multiplica-se ao longo do rio. Às vezes parece ouvir-se o som do comboio ao longe, mas são miragens, não passa da imaginação e do som das águas revoltosas do rio. De repente a automotora surgiu, vinda das sombras do primeiro túnel. Progredia muito lentamente, permitindo-me várias fotografias.

Pouco depois estava no local fatídico do acidente do dia 12 de Fevereiro de 2007, é impossível não reparar no lugar. Caminhei mais algum tempo e encontrei um ponto onde havia água. Aproveitei para repor a que já tinha bebido. O dia prometia ser quente, muito quente.
Só já esperava encontrar o pequeno apeadeiro do Castanheiro. Está tão “encaixado” na escarpa que só se dá por ele, quando nele se tropeça. Junto ao rio há um conjunto de mós, devem ter existido aqui várias azenhas. As águas levaram quase tudo menos as mós e uma espécie de ponte feita em pedra. É um dos pontos do rio com uma bonita praia de areia branca. Bem me apetecia um banho refrescante.
Subi a um penhasco, estava na hora de passar mais uma automotora. Acompanhei-a desde longe, desta vez no percurso descendente da linha, e passou quase por debaixo dos meus pés.

Retomei a caminhada. O rio e a linha aproximam-se de novo. Aqui e além surgem de novo algumas oliveiras. Não porque os terrenos são melhores, mas porque os acessos são mais fáceis. As oliveiras crescem em locais incríveis, mas têm uma bonita copa, frondosa e arredondada.
No quilómetro nove aparece mais um túnel, o Túnel da Falcoeira. Depois de sair do túnel há uma zona com uma paisagem excepcional, uma das minhas preferidas. Na margem oposta do rio há rochedos que parecem formar construções. Alguns parecem querer cair a qualquer instante, tão frágil é o seu equilíbrio. Também há algumas formações rochosas curiosas junto à Ponte de Paradela, no quilómetro 11.
Quando atingi esta ponte era meio dia e um quarto e tinha percorrido sensivelmente um terço do meu percurso. Levei quatro horas e meia a percorrer 10 quilómetros, quanto tempo me levaria ainda até Abreiro?

Esta aventura continua... aqui

Do blog: À Descoberta de Carrazeda de Ansiães

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Quilómetro 4,7


Quando chegamos ao 4.º quilómetro consegue ver-se ao longe a estação de Tralhariz e o túnel, que entra pela montanha adentro. Este túnel é em curva e abre as portas para o reino maravilhoso que se segue. Um rochedo com uma configuração muito fotogénica (4,6 Km) e depois uma visão alargada do rio, com a linha do lado direito (4,7 Km). Esta é uma das zonas mais fantásticas da linha.
Sentido Foz-Tua - Mirandela; entre os 4,6 e 4,7 quilómetros.
18 de Julho de 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Tralhariz

A estação de Tralhariz, aparece do nada, por detrás dos rochedos.
Sentido Foz-Tua - Mirandela.
01 de Maio de 2008

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Gladíolo - Gladiolus italicus


Tenho-me deixado entusiasmar pelas fotografias a preto e branco, mas não podemos esquecer que estamos na Primavera!
Esta simpática planta é um gladíolo selvagem de nome científico Gladiolus italicus Mill. É muito abundante em Portugal, principalmente no litoral, e no interior centro e sul, onde é conhecido por Calças-de-cuco, Cristas-de-galo ou Espadana-das-searas. Em Trás-dos-montes, tenho-o encontrado principalmente nos vales do Rio Sabor e do Rio Tua. É frequente em terrenos incultos, com muito mato e rochas. A época da floração é de Março a Junho. As folhas são como as dos gladíolos dos jardins, mas de pequenas dimensões. Também têm um pequeno bolbo.
A fotografia foi tirada junto ao Rio Tua, perto da estação de Tralhariz.

do Blogue: À Descoberta de Carrazeda de Ansiães

sábado, 3 de maio de 2008

Na Linha do Tua - 4


No dia 1 de Maio tive tempo para mais uma etapa "À Descoberta da Linha do Tua". O meu plano era fazer o percurso que vai da estação da Brunheda a Foz Tua em duas caminhadas ao longo da linha. Mas, com os acontecimentos mais recentes que levaram ao encerramento, precisamente, desse troço da linha, as coisas complicaram-se. Acolhido de um ímpeto daqueles que é difícil controlar, decidi fazer todo o percurso numa só etapa.

Do apeadeiro de Brunheda a Foz Tua são 21 quilómetros. Além da distância, tinha que jogar com os horários da automotora para não ter que levar o carro até muito longe daqui ou ter que estar a incomodar outras pessoas. Depois da experiência entre o Cachão e Mirandela, achei que 21 quilómetros estavam dentro das minhas possibilidades para caminhar, não sabia era se a fotografia me iria deixar tempo para fazer todo o percurso. Caso não conseguisse, as dificuldades em voltar a casa seriam mais do que muitas, visto que, entre a ponte na Brunheda e o Tua, não há nenhum local com grande movimento de pessoas ou de viaturas.

A força de um desafio, ultrapassa por vezes a razão, e, na manhã do dia 1, estava bem acordado mal despontou o sol. Tinha planeado tudo muito bem durante a noite: ia de automóvel até à Ribeirinha; seguia de automotora até à Brunheda; tomaria o táxi que faz o transbordo dos passageiros até ao Tua; teria aproximadamente 6 horas para fazer o percurso, linha acima, a tempo de voltar a apanhar a automotora na Brunheda próximo das 19 horas.
Preparei a mochila. Vai estar calor ou vai fazer frio? Quanta água vou beber? Levo uma lanterna? E o almoço? Sou muito prático com todas estas coisas e alguns anos de caminhadas deram-me alguma experiência.
Às nove horas já andava a fotografar as ruas mais típicas em Vilas Boas. Desci calmamente até ao Rio Tua. O dia prometia. Estava fresco, havia muito orvalho mas quase não se viam nuvens. O amarelo das maias contrastava com o verde das oliveiras. O monte do Faro parecia ainda não ter acordado, mas a Serra dos Paços, no concelho de Mirandela, estava radiante, esticada ao sol.

Quando cheguei à apeadeiro da Ribeirinha, o meu amigo Abílio ficou contente por me ver. O sr. Abílio é o “guardião” da linha. Mora na estação e conhece toda a linha palmo a palmo. Veio da Urrós, Mogadouro e por aqui trabalhou enquanto os ossos aguentaram. Quando fala, recorda com saudade os tempos em que percorria a linha, a altas horas da madrugada, fazendo reparações aqui e além, para que no dia seguinte tudo estivesse pronto. Nota-se-lhe na voz algum desalento e fala do encerramento da linha, como fala da sua hérnia ou nas suas pernas que já demoram a obedecer. Caminhámos perto da linha durante alguns minutos. A erva alta encharcou-me as botas. Já nem há burros na Ribeirinha para pastarem aquela viçosa erva, há apenas um burrico e uma mula, para puxar uma carroça ou para lavrar alguma pequena horta.
Andávamos por ali entretidos com a conversa, quando chegou outro automóvel. Trazia 4 técnicos que vestiram os seus coletes florescentes e se puseram a fazer medições, via fora, resistindo aos nossos olhares desconfiados.

Às dez e trinta minutos chegou a automotora. Com medo que não parasse, acenei-lhe, mas a Ribeirinha é paragem obrigatória.
Quando o revisor se aproximou para me tirar o bilhete, soube a novidade. A automotora já não seguia até à Brunheda, ficaria em Abreiro, 13 quilómetros mais abaixo. A notícia baralhou-me por completo. Durante esses quilómetros, com paisagens magníficas, dividi-me entre o multicolorido dos montes e a reformulação do plano. Em Abreiro já nos esperava uma carrinha táxi, por sinal conduzida por um meu conhecido, de Carrazeda de Ansiães. Não sobrou um lugar. Éramos precisamente nove, contando com o revisor. Seguimos em direcção a Abreiro, Milhais e depois Sobreira. Este percurso é bonito, acreditem. O céu pintou-se de um azul carregado; apareceram algumas nuvens brancas; só me apetecia pular daquele táxi e ficar mesmo ali gozando a liberdade de um dia fantástico, longe de tudo que nos aflige no dia a dia. Fiquei um pouco mais abaixo, plantado em plena ponte da Brunheda, sobre o Rio Tua e sobre a linha.
Decidi fazer o percurso ao contrário do que tinha planeado, sairia da Brunheda em direcção a Foz-Tua. Mal o táxi arrancou, desci à linha, não tinha tempo a perder.

Foi um início de caminhada fantástico! Todos os elementos naturais se conjugaram de forma tão perfeita que receei, logo ali, não ter tempo suficiente para chegar ao Tua. O ar estava fresco; o céu tinha um azul intenso salpicado de nuvens mais brancas do que a neve; o rio corria forte, embora o seu caudal tivesse baixado nos últimos dias; as encostas do vale brilhavam de um verde puro, salpicado com manchas de várias cores; a linha descia em direcção a Sueste ladeada por tufos de flores. Olhava para trás a cada dezena de metros percorridos. A posição do sol fazia com que, precisamente nas minhas costas, a luz tivesse as condições ideais para ser polarizada e provocar aquele céu azul que eu tanto gosto.
A primeira paragem foi no apeadeiro de Tralhão. Nem todos saberão, mas tralhão é uma designação regional para uma ave. Este apeadeiro fica plantado aqui no meio do nada. Penso que serviria a aldeia de Pinhal do Norte, mas desconheço se há alguma estrada que lhe dê acesso. Não tem telhado mas sim uma placa de betão, transformando o apeadeiro num interessante miradouro sobre a linha e sobre o rio. Subi as escadinhas e tirei algumas fotografias. Nas traseiras do edifício há um curioso forno, de forma rectangular, coberto por um telhado com duas águas.

Um pouco depois, numa curva da linha, avistei algumas casas cravadas na encosta em frente. Era S. Lourenço. O tempo parece ter parado nas ruínas das casas. Há mais de duas décadas passeei bastante por este local. Não fora o edifício da estação e eu dizia que nada por aqui mudou. As velhas casinhas com alpendre de madeira lá continuam, em ruína, como sempre estiveram. Bem gostava de ter subido junto à fonte, pedir ao santo boa sorte para a caminhada, visitar a pequena capela, quem sabe beber uma garrafa de água fresca na taberna onde tantas vezes comprei tremoços, nas tardes de domingo.

Concentrei-me de novo na linha. Faltavam-me 15 quilómetros para o Tua e, embora tenha planeado o percurso do Tua para a Brunheda, sentia que me estava a atrasar. Pouco depois de deixar a estação das termas de S. Lourenço, encontrei um dos rochedos mais pitorescos de todo o percurso. Parece plantado entre a linha e o rio por uma mão poderosa, para nos impressionar, qual estátua de basalto na ilha de Páscoa. O céu, agora com bastantes nuvens, criava zonas de sol e sombra complicando a fotografia. Esperei alguns minutos que a construção se iluminasse e disparei algumas fotografias sem grandes preocupações de enquadramento.

Continuei a viagem, desta vez em passo bastante apressado. Nem a visão fugaz do primeiro medronheiro me fez abrandar. Esta zona é bastante bonita. Há muita vegetação, constituída principalmente por giestas, zimbros, sobreiros e pinheiros literalmente cravados nas rochas. O rio corre muito próximo, apertado de ambos os lados por grandes blocos de granito tão duro que raramente evidencia marcas das correntes de séculos. Não resisti a um tufo de madressilva pendurada sobre o rio e descansei um pouco.

Numa curva da linha avistei o Amieiro. A pequena aldeia, pendurada na montanha, é muito fotogénica. Era uma e meia da tarde e nada mais se ouvia além do som da água batendo em rochas ciclópicas. Que panorâmica magnífica se deve ter desta aldeia! Senti curiosidade em conhecer o teleférico, ou o que resta dele, que traz as pessoas para a estação de Santa Luzia. De um lado do rio a aldeia, do outro a pequena estação rodeada de rochedos que ameaçam esmagá-la a cada instante. É um lugar solitário, de paz, onde apetece parar e deixar o tempo passar, sem preocupações. Saí dali com pena, a passo lento. Aproveitei para comer alguma coisa, enquanto caminhava. Estava sensivelmente no quilómetro doze. Pouco depois atravessei uma ponte, penso que se trata da Ribeira do Barrabáz. No alto das montanhas é a Aborraceira, um local onde espero ainda ir um dia.

Entre o quilómetro 9 e o 10 há um túnel, em curva, o maior de todos os seis que existem na linha. É o Túnel da Falcoeira. Apesar do nome sugerir aves de rapina, não vi nenhuma durante todo o percurso. Curiosamente o dia não estava muito bom para observação de aves. Quase posso resumir a lista de aves que vi : perdizes, pombos-torcaz, melros, melros azuis, tentelhões e andorinhas das rochas. No que toca à flora, destaco o medronheiro de que já falei, a giesta (Cytisus scoparius), a urze (já sem flor), a dedaleira (Digitalis purpurea L.), encontrei uma completamente branca, nunca tinha visto, espadana dos montes (Gladiolus illyricus), madressilva (Lonicera etrusca)…entre outras.

Também encontrei bastantes ninhos de pequenos passeriformes nos barrancos da linha. Alguns deles tinham ovos.
O rio faz um apertado cotovelo e, logo depois, aparece o pequeno apeadeiro de Castanheiro quase escondido na encosta. Perto deste havia dois ou três veículos automóveis e junto ao rio estava uma meia dúzia de homens. Estavam todos entretidos, pelo que pude perceber a estripar peixes! Perto deles, nos rochedos, estava uma enorme panela de ferro, daquelas que usavam para cozer os ossos das alheiras! Deu-me impressão que se preparavam para fazer uma valente caldeirada. Reconheci alguns, eram de Carrazeda de Ansiães. Ainda pensei em ir conversar com eles, mas segui viagem.

Pouco depois encontrei uma zona da linha que parecia ter sido mexida recentemente. Devia ser o local onde ocorreu o acidente de 12 de Fevereiro de 2007, em que perderam a vida três pessoas. O local não é, nem mais, nem menos perigoso, do que a maior parte da linha. Nos percursos que já fiz, vi com frequência pequenas pedras que se desprenderam por causas naturais e rolaram até perto da linha. Em muitas locais já foram colocadas protecções, mas é impossível coloca-las em todos os locais onde há perigo. Viajei bastante na linha do Douro e sempre tive receio que um dia o comboio descarrilasse para o rio. Felizmente nunca aconteceu.
Entre o quilómetro 5 e o quilómetro 7 há dois túneis. Este sim é um local assustador. Entre os dois, o Túnel Fragas Más e o Túnel do Boitrão, a linha é suportada por uma estrutura de betão com alguns metros de altura. É uma das zonas mais agreste e a mais assustadora de todo o percurso.

Neste local há uma outra atracção, mas do lado oposto do rio, em território do concelho de Alijó. Trata-se de um conjunto de pequenas cascatas, que só terminam quando a água da Ribeira de S. Mamede atinge o rio. Tive sorte porque a ribeira ainda corre bastante água e a paisagem estava um encanto.
Pouco depois surge um outro túnel, o Túnel da Aveleda que antecede a no apeadeiro de Tralhariz. A paisagem muda bastante neste local. Começam a ver-se muitos socalcos com oliveiras principalmente na margem esquerda do rio. As vinhas também começam a marcar presença.

A luz começava a estar mais baixa, tentando entrar pelo vale acima. O céu perdeu o brilho da manhã e início de tarde, mostrando-se agora cheio de neblina com a luz difusa. Quer os meus olhos, quer os meus pés já ansiavam por ver os vinhedos do Douro, mas ainda faltavam 3 quilómetros. Perto da foz do Tua as margens ganham de novo altura e a dureza do granito. O leito estreita-se formando uma garganta de paredes verticais de rocha pura e nua. É neste local que se planeia a construção da barragem. Já se avistava a ponte sobre o Tua e os vinhedos do outro lado Douro. Depois de um pequeno túnel há uma ponte metálica, o Túnel e a Ponte das Presas. À volta da ponte, há uma estrutura metálica e obras de restauro na mesma.
Já se avistam as casas de Foz Tua e o olhar alonga-se ao correr do Douro.

Cheguei à estação às seis horas menos um quarto. A calma era total. Entre sentar-me num banco a descansar um pouco, comer alguns mantimentos que ainda tinha comigo, ou dar um passeio pela estação, admirando velhas glórias dos caminhos-de-ferro que por ali se encontram, optei por esta última. Há algumas composições da via estreita que vão morrendo aos poucos. As portas estão abertas, arrancam-lhe os bancos, as lâmpadas e partem-lhe os vidros. O cenário é degradante.
No interior da estação há algumas peças museológicas dos caminhos-de-ferro. Estas sim, bem cuidadas e apresentadas.
Chegou uma composição procedente do Pocinho e uma outra do Porto. Ambas partiram rumo aos seus destinos e eu abandonei a estação à procura do táxi. Na viagem de regresso éramos apenas dois passageiros e o revisor. Mantivemo-nos os três, até que abandonei a composição do metro, na Ribeirinha.

O percurso de regresso a Abreiro até é interessante, mas não me parece que seja o que os turistas que vêm viajar na Linha do Tua, pretendem ver. Saímos do Tua às 18:22 e fizemos o seguinte percurso: Ribalonga, Castanheiro, Paradela, Pombal, Pinhal do Norte, Brunheda, Sobreira, Milhais e Abreiro . Perto da Sobreira cruzámos com outros dois táxis que faziam o percurso inverso.
Às 19:35 estava de volta à Ribeirinha. Tinha o sr. Abílio à minha espera, para saber as novidades sobre a linha.
Subi a Vilas Boas quando os últimos raios de sol quente iluminavam o cabeço de Nossa Senhora da Assunção. Vinha contente. Tudo correu bem. Fisicamente sentia-me bem. O dia também esteve agradável para caminhar, não fazendo muito calor. Não tive nenhum percalço no percurso, o que teria sido muito mau, uma vez que só há rede de telemóvel (da rede que uso) no Amieiro e depois de deixar o Tua em direcção a Ribalonga.

Em termos fotográficos, foi um dia muito produtivo. Depois de apagar algumas fotografias exageradamente falhadas, sobraram 1390, que dá uma média superior a 6 fotografias por cada 100 metros. Preferia ter feito o percurso em duas etapas. Teria tido mais tempo para dedicar a determinados aspectos da fauna e da flora, até mesmo da linha e do rio, que gostava de explorar. Quem sabe se esta não foi só a minha primeira viagem a pé, de Mirandela a Foz Tua?
Ligação para a 1.ªetapa entre Cachão e Ribeirinha
Ligação para a 2.ªetapa entre a Brunheda e Ribeirinha
Ligação para a 3.ªetapa entre a Cachão e Mirandela
Ligação para a 4.ªetapa entre a Brunheda e Foz-Tua

Do Blog: À Descoberta de Carrazeda de Ansiães