terça-feira, 27 de janeiro de 2009

De Abreiro à Ribeirinha

O Outono passou rapidamente e não me deu tempo para percorrer toda a extensão da Linha de Foz Tua a Mirandela, mas, com os dias a “crescerem”, voltei aos meus passeios começando com um belo percurso entre Abreiro e a Ribeirinha. Apesar de ser perto de onde eu moro, é um dos troços com grande beleza natural.
No dia 19 de Janeiro, cheguei à estação de Abreiro perto das três da tarde. O Céu tinha muitas nuvens e o ar estava muito frio. Ia preparado para uma curta caminhada, com sol, chuva ou mesmo neve. A mochila engordou ligeiramente com alguns acessórios para responder ao mau tempo. Também ficou mais leve, porque apenas me faço acompanhar de uma pequena garrafa de 1/4 de litro de água (no Verão levava vários litros).
O caudal do rio pouco se alterou, correndo sem grande sobressaltos por entre os rochedos junto à Ponte do Diabo. A vegetação nas encostas também pouco mudou. As únicas árvores de folha caduca situam-se junto às margens, e perderam todas as folhas. Não é a mesma coisa que passear por estes locais nos meses de primavera…
Decidi concentrar-me na luz e nas nuvens. Quando falta a cor, torna-se um desafio aliciante, tentar fotografar com o mínimo de luz, tentando captar uma certa atmosfera que por vezes se vê, por vezes se pressente, controlando todos os parâmetros que a câmara permite, principalmente a sensibilidade e a abertura.
Desde o acidente de Agosto de 2008, presto uma especial atenção à linha. A leitura do relatório e dos seus anexos deram-me alguns conhecimentos para detectar defeitos e há mesmo muitos.
Era a 5.ª vez que fazia este caminho, por isso já conhecia os pontos estratégicos que permitem uma boa visão da linha. O silêncio era absoluto, depois de deixar as águas agitadas, depois da estação de Abreiro (30.º km). Nem aves, nem qualquer outro animal se divertia no frio da tarde.
Ao quilómetro 32.º começou a chover. Procurei refúgio nas ruínas de uma quinta nas Taimas. Nestas ruínas, onde o xisto que combina com o granito, a madeira e a argila das telhas já cedeu ao abandono. Numa divisão tomada pelas silvas desenha-se a entrada de um forno forrado a barro, sugerindo um longínquo cheiro a pão quente.
A chuva parou rapidamente e acelerei o passo para chegar ao apeadeiro da Ribeirinha. O sr. Abílio não me esperava à porta, como é habitual. Se calhar foi do frio ou talvez estivesse doente, o Inverno é complicado para os idosos.
Cheguei ao 34.º quilómetro, já depois da Ribeirinha às 4:30 da tarde. Já me restava pouco tempo para fazer o caminho de regresso, tendo em conta que demoraria pelo menos uma hora.
Recomecei a caminhada em passo acelerado. Quando o céu ganhou alguma colocação avermelhada, perdi a pressa. De novo me esqueci do tempo deixando-me levar pelas nuvens escuras, pelas águas do rio, fundindo-me com a tranquilidade do local que por nada era perturbada. Liguei o flash, levei o ISO ao limite e saboreei cada minuto, cada passo, até que algumas gotas de água gelada me tiraram do transe. Cheguei a Abreiro às 18 horas, já noite escura.
Esta foi a minha primeira caminhada de Inverno na Linha. A primeira de mais uma série delas que me levarão a conhecer toda a sua extensão, nos tais três meses que não são de “Inferno”.

1 comentário:

bruno alves disse...

Grande noite aqui passada debaixo de um bivaque de toldos.....abraço camaradas...
Ass. O Alves....