Esta é a continuação do passeio que fiz, a pé, no dia 12 de Julho. Começou em Freixel, continuou pela Ribeira da Cabreira até à foz, no Rio Tua.
Cheguei ao Rio Tua às duas horas da tarde. Fiz questão de descer junto à margem e ir ao exacto local onde as águas da ribeira se diluem no ainda grande caudal do rio. Espreitei a ponte do comboio - que salta a ribeira - e preparei-me para a segunda etapa, agora já em terreno meu conhecido.
Aproveitei para calar o estômago, enquanto caminhava. Já podia seguir tranquilamente.
As primeiras observações levaram-me a comparar a paisagem com aquela que encontrei em Abril de 2008. A erva seca substituiu o manto de flores que ladeava a linha, mas o rio continua igual, vigoroso e barulhento. Este troço da linha foi objecto de uma intervenção, mesmo até ao Cachão. Parece-me que aproveitaram a movimentação das máquinas para o enterramento de uma estrutura de mangas de plástico (com o objectivo de receberem redes de fibra óptica), para limparem as valetas, ajeitarem a gravilha, substituírem algumas travessas, colocarem novos sinais, etc. Tantos melhoramentos numa linha a abater?!
Até à estação de Abreiro, foi um passeio. A estação está transformada em estaleiro, mas não encontrei água, nem casas de banho.
Aborreceu-me o facto de não passar nenhuma automotora. É mais agradável fotografar a linha, quando esta está ocupada.
Aproveitei a paz ambiente para fazer uma viagem no tempo. Imaginei a que velocidade seguiria a composição que transportou El-Rei Dom Luís e a rainha D. Maria Pia, que se deslocavam a Mirandela para a inauguração da linha, a 27 de Setembro de 1887. Imaginei-me a registar o momento com a minha moderna câmara digital (imaginação fértil). Imaginação também não faltava a Rafael Bordalo Pinheiro, que esteve presente na cerimónia, na estação de Mirandela.
Parti para a etapa seguinte, Ribeirinha. Gosto muito deste troço. As águas encolhem-se por entre rochas gigantescas, fazendo muito barulho; na margem oposta há formações graníticas interessantes; começa a aparecer o cume da Serra do Faro, meu vigilante de muitos passeios. No quilómetro 31 encontrei uma nascente de água. Era saborosa e aproveitei para repor as reservas que transportava.
Um pouco mais à frente há um rochedo elevado, entre a linha e o rio. Aproveito sempre para fazer fotografias doutro ângulo, subindo ao rochedo. De repente, saindo das curvas da Ribeirinha, apareceu um grupo de pessoas que caminhava pela linha. Eram mais de uma dezena. Ainda pensei que se tratava do grupo com quem pensara encontrar-me, mas não. Continuaram em direcção a Abreiro e eu à Ribeirinha. Ao vê-los afastarem-se, em linha, pela linha, lembrei-me: porque é que ainda ninguém se lembrou de criar um passeio ao lado da linha? Um passeio com pouco mais de 50 cm de largura, seria suficiente para que os caminhantes pudessem percorrer, facilmente, toda a extensão da linha. Não teria sido difícil fazer esse passeio, em cimento, à medida que formam enterrando a estrutura para a fibra óptica.
Quando cheguei ao apeadeiro da Ribeirinha, estava na hora de passar a automotora, no sentido Mirandela-Tua. O senhor Abílio, “guarda” sempre atento da estação, prontamente me abasteceu de água fresca. Trocámos algumas palavras enquanto a automotora não chegava. Chegou, e parou. Também na automotora viajava um grupo de amigos, meus, da fotografia e da Linha do Tua! Ainda tive tempo para os cumprimentar, a automotora fica sempre alguns minutos na Ribeirinha. Seguiu em direcção ao Tua, e eu, em direcção a Vilarinho das Azenhas. Neste troço, mal se avista o rio. Às vezes sigo pelo caminho, que é paralelo à linha, mas decidi manter-me na linha. Nas oliveiras em redor vêem-se muitos rebentos novos! Parecem estar a recuperar da doença que as afectou e que matou bastantes, nestas zonas baixas.
Não fiz nenhuma pausa no Vilarinho. O cansaço já era muito, doíam-me os pés. Caminhar pela linha, pisando de travessa em travessa, não é rápido e maça muito a base dos pés. Na maior parte do percurso não há outra alternativa, mas nalguns locais há uma pequena faixa de terra, que se deve aproveitar.
Já passava das seis da tarde, o sol dava alguns sinais de querer descansar. Nos rochedos escarpados sobre o rio já se notava o alaranjado do entardecer. Passou mais uma automotora, esta só até Abreiro.
Perto do Cachão encontrei, junto à linha, uma planta que nunca tinha visto. Trata-se de uma espécie de feto, mas muito grande e lenhoso! Nunca o vi em lugar algum, ao longo de toda a linha, só encontrei aqui pequenas manchas, em locais escarpados e sombrios, como é típico dos fetos. Vou procurar saber mais desta planta.
Já muito devagar, fui-me aproximando do fim do meu passeio. E devo dizer que não terminei no melhor local. O aspecto do Complexo do Cachão, para quem passa na linha, é tudo menos bonito e o cheiro ainda é pior.
Foi um longo passeio, cheio de emoções e magníficas paisagens.
Do Blogue: À Descoberta de Vila Flor
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