Ao contrário da Linha do Tua, que está cada vez mais parada, nós, os que não somos subsídiodependentes somos obrigados a trabalhar cada vez mais, para termos cada vez menos poder de compra. Desabafos à parte, não me tem sobrado muito tempo para a escrita dos meu passeios pedestres, pelo Tua ou pelo Sabor.
Uma das últimas “viagens” na Linha do Tua aconteceu a 8 de Maio. Foi mais uma caminhada ente Foz-Tua e Brunheda, mas esta foi muito “molhada” e, por isso, bastante diferente das anteriores.
Fui de carro até Foz-Tua, onde cheguei perto das 9 da manhã. Quando passei Ribalonga em direcção ao Tua tive o primeiro momento feliz do dia. Um chasco-negro veio pousar num poste de telefone relativamente perto de mim. Só recentemente soube que a pequena ave (Oenanthe leucura) é muito rara em Portugal. A norte, praticamente só se pode observar nesta zona do Douro do concelho de Carrazeda de Ansiães.
Depois de um café, para espevitar um pouco, parti linha acima disposto a passar todo o dia na mais completa solidão.
Logo nos primeiros metros já se notavam os efeitos do abandono da linha. A erva tomou conta dos carris, com azedas a crescerem por toda a parte.
Mais à frente, sobre o viaduto das Presas, foi construída uma passadeira, talvez para facilitar o acesso ao pessoal que aí trabalha na futura barragem. Apesar das máquinas terem de fazer um grande volta, quase pela estação de Tralhariz, as pessoas têm acesso rápido e directo pelo viaduto e túnel das Presas.
Ainda não tinha estado no local desde o início das obras e, confesso, estava à espera de maior destruição. Na margem esquerda do rio, junto da linha, as alterações são ainda poucas, ainda que já sejam demasiadas. Na margem direita, onde foi aberto um estradão já algum tempo, é que a destruição é maior.
Os carris ao longo de quase dois quilómetros foram arrancados para possibilitar a circulação de máquinas ao longo da linha. Como passei pelo local num fim-de-semana não havia máquinas em movimento.
O céu foi-se encobrindo cada vez mais e preparei-me para o pior. Para quem gosta de fotografar, não há nada como não ter luz. De qualquer forma, a chuva não me assustava porque já levava algum equipamento a contar com essa eventualidade.
Mesmo em condições pouco convidativas, não podia deixar de reparar na quantidade de flores multicolores que povoam a paisagem. Março, Abril, Maio e Junho são meses com cores fantásticas e isso é visível em toda a extensão da linha.
Quando estava entre os dois túneis das Fragas Más fui alcançado por um grupo de seis pessoas. Nele estava Miguel Faria que já enviou algumas das suas fotografias desse dia para este blogue. Como o seu ritmo era mais elevado, acabei por ficar para trás, mas voltaríamos a encontrar-nos no Castanheiro, no S. Lourenço e na Brunheda.
Pouco depois de passar o Castanheiro, começou a chover com bastante intensidade. Se o ambiente saturado de vapor de água me agradava, a máquina fotográfica quase completamente encharcada preocupava-me muito. Quando a retirava a de baixo da capa de água, ou estava com a objectiva completamente embaciada, ou toda molhada. Não tinha guarda-chuva, o que dificultava as coisas. Não fiz nenhuma pausa para o almoço, que fui mordiscando depois da uma, perto da ponte de Paradela.
Em Santa Luzia ainda fiz uma pequena pausa para arrumas as coisas na mochila. A chuva era cada vez mais intensa e eu não me podia dar ao luxo de não chegar a horas do Taxi, na Brunheda.
Quase ao longo de toda alinha são evidentes os sinais de abandono. Há muitas derrocadas, rochas enormes na linha e os carris foram deslocados (nalguns lugares cerca de 20 cm). Pouco antes da Brunheda, sensivelmente onde se verificou o último acidente, a linha está praticamente destruída em ao longo de mais de 100 metros. Inicialmente não percebi porquê, mas depois apercebi-me que são as obras para a construção de uma ponte para o futuro IC5. É assim a gestão deste país, bastam-se milhos em estradas e afoga-se uma linha centenária, das mais bonitas da Europa.
A caminhada foi-se tornando monótona. Cada vez era mais difícil tirar fotografias e já tinha as pernas e os pés completamente encharcados. Fui caminhando com calma para que não sofressem muito, dificultando-me o avanço. Consegui manter um ritmo constante e chegar à Brunheda às dezassete menos dez minutos. Pouco depois chegou o grupo que se encontrava também a fazer a caminhada.
Apanhei o táxi para Foz-Tua. O corpo arrefeceu e comecei a sentir bastante frio. Felizmente a viagem demorou pouco e rapidamente pude voltar a casa.
2 comentários:
Eu ainda não quero acreditar que a destruição da linha seja um dado irreversível
Boas estou intressado em percorreu a linha do Vale do Tua em Dezembro. Gostava de saber se é possivel transpo-la na zona das obras da barragem. Obrigado. (há por ai alguem que saiba ? ...)
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