terça-feira, 29 de abril de 2008
Petição pela Linha do Tua VIVA
Como tenho mostrado pelas fotografias recentes neste Blog, a Linha do Tua é um dos locais mais bonitos de se percorrer no Nordeste Trasmontano. A par disso, é uma importante obra de engenharia feita por aqueles que acreditaram que os que cá viviam, também tinham direitos. Para algumas aldeias ao longo da linha é ainda o meio de transporte mais prático e económico.
Os movimentos a favor da manutenção da linha (contra a barragem), são muitas vezes acusados de nem saberem onde fica o Tua, de serem estrangeiros. Os que vivemos aqui, e que queremos continuar a viver, também somos capazes de imaginar outro tipo de desenvolvimento, sem destruição do nosso património e sem esvaziamento da região de quase tudo o que foi conquistando com muito esforço. Apregoa-se o desenvolvimento à custa da desertificação, do encerramento, da entrega das poucas coisas valiosas que temos aos grandes interesses económicos.
Os próprios autarcas estão "tão convencidos" das vantagens da construção da barragem, que na reunião que tiveram em Carrazeda de Ansiães a meados de Abril, quando pensavam discutir as contrapartidas a pedir, decidiram criar uma comissão para o estudo do desenvolvimento da região, aceitando como possível a manutenção da Linha do Tua como factor de potencial desenvolvimento.
Aconselho a leitura da Petição pela Linha do Tua neste endereço, e a assinarem-na, como forma de empenhamento na defesa de um património que é nosso, mas que queremos deixar às gerações futuras.
Mais informação aqui:
http://www.alinhadotua.com
http://www.linhadotua.net
Do Blogue: Frechas
Petição pela Linha do Tua VIVA
Como tenho mostrado pelas fotografias recentes neste Blog, a Linha do Tua é um dos locais mais bonitos de se percorrer no Nordeste Trasmontano. A par disso, é uma importante obra de engenharia feita por aqueles que acreditaram que os que cá viviam, também tinham direitos.
Os movimentos a favor da manutenção da linha (contra a barragem), são muitas vezes acusados de nem saberem onde fica o Tua, de serem estrangeiros. Os que vivemos aqui, e que queremos continuar a viver, também somos capazes de imaginar outro tipo de desenvolvimento, sem destruição do nosso património e sem esvaziamento da região de quase tudo o que foi conquistado com muito esforço. Apregoa-se o desenvolvimento à custa da desertificação, do encerramento, da entrega das poucas coisas valiosas que temos aos grandes interesses económicos.
Os próprios autarcas estão "tão convencidos" das vantagens da construção da barragem, que na reunião que tiveram em Carrazeda de Ansiães a meados de Abril, quando pensavam discutir as contrapartidas a pedir, decidiram criar uma comissão para o estudo do desenvolvimento da região, aceitando como possível a manutenção da Linha do Tua como factor de potencial desenvolvimento.
Aconselho a leitura da Petição pela Linha do Tua neste endereço, e a assinarem-na, como forma de empenhamento na defesa de um património que é nosso, mas que queremos deixar às gerações futuras.
Mais informação aqui:
http://www.alinhadotua.com
http://www.linhadotua.net
A fotografia foi tirada na Linha do Tua, no dia 05 de Abril de 2008, no termo da freguesia de Pereiros.
Do Blogue: À Descoberta de Carrazeda de Ansiães
sábado, 26 de abril de 2008
Na Linha do Tua - 3
Mais um passeio fantástico pela Linha do Tua, desta vez no concelho de Mirandela. Foi a terceira etapa e percorri a linha entre Cachão e Mirandela. Toda a reportagem pode ser vista no Blog de um amigo meu, de Frechas.
Do Blogue: À Descoberta de Carrazeda de Ansiães
Do Blogue: À Descoberta de Carrazeda de Ansiães
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Na Linha do Tua - 3
Hoje foi o dia de partir "À Descoberta" de mais um troço da Linha do Tua. Dia 25 de Abril, dia da liberdade e não há melhor local para eu me sentir livre do que em contacto com a Natureza, longe do barulho, longe da pressão, longe de tudo o que torna o nosso dia a dia num círculo viciado.
Depois de percorrer, a pé, a 1.ªetapa entre Cachão e Ribeirinha e a 2.ªetapa entre a Brunheda e a Ribeirinha, pretendia continuar em direcção ao Tua, mas o acidente que aconteceu na linha, com a Dresin, no dia 10 de Abril, tem dificultado os meus planos.
A minha ideia inicial, era percorrer, a pé, a parte da linha que tem grandes hipóteses de ser trocada por contrapartidas com a EDP, mas depois pensei: porque não percorrer os 54 quilómetros que vão desde Foz-Tua a Mirandela? Como as automotoras continuam a fazer o percurso Brunheda – Mirandela, mantendo os mesmos horários, planeei a 3.ª etapa, Cachão – Mirandela.
Estudei os horários, o trajecto, consultei mapas e fotografias aéreas na Internet. A caminhada seria do Cachão a Mirandela. Iria de carro até ao Cachão; seguiria pela linha até Mirandela; apanharia a automotora de volta ao Cachão e regressaria a casa. Em termos de horários, já sei que tenho de somar bastantes mais horas do que aquelas que são necessárias para fazer o caminho. O objectivo era tirar fotografias e não fazer o percurso o mais rápido possível.
Às onze horas estava no Cachão. O céu estava limpo e o sol escaldante. Carregava o almoço, bastante água e, claro está, o material fotográfico necessário. A estação do Cachão está muito bem cuidada. Foi pintada recentemente e a área circundante está limpa. Até tem um horário dos comboios colado na porta (que ainda tem vidros!). A poucos metros de distância há alguns armazéns, estes sim destruídos. Um deles tem um bonito gradeamento em ferro, mesmo a pedir algumas fotografias a preto e branco.
Segui viagem, pela linha, mas sempre atento a qualquer possibilidade de descer até ao rio, que tem um grande caudal, fruto das “águas mil” de Abril. Neste percurso entre Cachão e Mirandela, a linha e o rio parecem de costas voltadas, chegam mesmo a separar-se, como acontece em Frechas.
A diferença de cota entre os dois é muitas vezes pequena, o que não permite ver o rio da linha. Ao longo de todo o percurso o rio corre mais manso do que para jusante, sempre ladeado de duas luxuriantes linhas de árvores, uma em cada margem, que dificultam a visão. De onde em onde resistem grandes açudes, acompanhados das ruínas das respectivas azenhas. Mesmo sem se verem, os açudes adivinham-se, pelo barulho que a água faz quando as transpõe.
No espaço em que a linha segue paralelamente à estrada N213 há dois açudes. Recordo-me comer uns peixinhos fritos, há mais de 20 anos atrás, na única casa que há perto do segundo açude! Depois a linha e a estrada separam-se só voltando a juntar-se perto da estação de Frechas.
A vegetação em volta, solicitava mais e mais fotografias. As papoilas vermelhas saltavam da verdura lembrando-me os cravos de Abril. Mais modestas mas não menos bonitas surgiam tufos de outras flores despertando a minha sensibilidade e o meu conhecimento: miosótis (Myosotis arvensis), borragem (Borago officinalis), erva das sete sangrias (Lithospermum diffusum), viperina (Echium tuberculatum), estevas, (Cistus ladaniferus), arçãs (Lavandula stoechas), jacinto das searas (Muscari comosum), roas (Rosa canina), muitas crucíferas e giestas. Quanto mais tempo se perde olhando com calma, mais variedade de vida se descobre.
Levei algumas horas a chegar a Frechas! Exposta ao sol, parecia adormecida no perfume das flores, aquecida pelo sol. Ao passar sobre a Ribeira da Carvalha, apeteceu-me molhar os pés, refrescar a cara, mas ainda havia muito caminho a percorrer. Atravessei o pequeno túnel sob a estrada nacional e preparei-me para admirar o rio. É neste ponto que da linha se avista melhor o rio. Lá ao fundo, onde o rio se esconde no cachão, os cumes do Faro e da Senhora da Assunção parecem vigiar os meus passos. Que felizes que são, tem hipótese de desfrutar desta paisagem dia após dia!
Consultei a minha cábula com os horários. Dali a pouco passou a automotora em direcção a Mirandela, onde chegaria perto das duas da tarde.
Andei mais um pouco e apanhei um valente susto. Numa quinta, muito bonita que existe na encosta apareceu mais de uma dúzia de cães gigantescos. Felizmente só um avançou para a linha. Não se sentindo apoiado, desistiu e eu pude continuar. A partir deste ponto, é onde a linha está em pior estado. As travessas estão velhas, mal apoiadas e a linha está invadida por ervas daninhas. Está assim até Mirandela. Andam algumas máquinas a enterrar ao lado da linha estruturas para fibra óptica. Penso que depois a linha sofrerá uma intervenção, colocando este troço ao nível da que já existe desde o Tua até Frechas.
No apeadeiro Latadas parei. Aproveitei para saborear o “almoço” já muitas vezes desejado, sentado num tufo de erva, à beira-rio.
Recuperado do cansaço, retornei a marcha. De novo a linha se afasta da estrada N213, só voltando a encontrar-se já em Mirandela.
Depois de algumas curvas, a vista alarga-se. Surgem campos povoados de flores espontâneas de todas as cores. Apeteceu-me deixar a linha e explorar o espaço circundante. Estava na Quinta do Choupim.
Pouco depois surgiram campos cultivados de ambos os lados da linha. Hortas, vinhas, olivais, pomares, mas também boas terras onde se plantavam batatas.
As primeiras casas de Mirandela já se viam ao longe. Acelerei o passo. A automotora partiria para o Tua às 16:14 e eu tinha pouco tempo para chegar à estação. Quando cheguei à Ponte do Açude convenci-me que poderia chegar a tempo.
Nos últimos metros há um carreiro que acompanha a linha e um bonito jardim entre o carreiro e o rio. A paisagem é deslumbrante, seria um óptimo lugar para merendar.
Cheguei à estação a dois minutos da automotora partir. Só tive tempo de limpar o suor e beber um pouco de água. Ainda chegou um grupo de 6 pessoas que desistiram da viagem quando souberam que não poderiam fazer o percurso até ao Foz-Tua pela linha.
Tirei o bilhete até Frechas e coloquei-me junto ao maquinista, apreciando a linha e trocando algumas palavras. Soube que seguiriam onze passageiros, de táxi, da Brunheda para o Tua. Também soube que a linha está completamente recuperada, mas ainda não foi ainda dada autorização para retomar a circulação da automotora no percurso completo.
Apeei-me em Frechas com uma intenção: dar um passeio pela beira-rio admirando a bonita praia fluvial.
Da estação segui, imagine-se, para a Rua da Liberdade. Desci a Rua dos Combatentes em direcção ao rio. Alguns caminhos estavam intransitáveis devido ao caudal do rio e tive que saltar algumas paredes para chegar à praia fluvial. Havia bastantes pessoas espalhadas ao longo do rio. Algumas mulheres lavavam roupa, outros descansavam, brincavam ou pescavam. Subi às ruínas da azenha à procura de melhores ângulos mas o brilho do sol reflectido na água ofuscava a câmara.
Segui em direcção a jusante e depois meti por um caminho em direcção à linha. Esperava-me mais um último esforço até chegar ao Cachão. O sol baixo, queimava-me a cara e dava colorações macias nas zonas translúcidas das flores e folhas. Não sei quanto tempo demorei. Cheguei à estação em simultâneo com a automotora que saiu da Mirandela às 18:13.
Percorri à volta de 18 quilómetros, a pé e tirei 814 fotografias. A selecção de meia dúzia para ilustrar esta minha aventura, é uma tarefa difícil. As fotografias ficam guardadas, mas os locais estão lá, cheios de luz e cor, à espera de serem visitados.
Ligação para a 1.ªetapa entre Cachão e Ribeirinha
Ligação para a 2.ªetapa entre a Brunheda e a Ribeirinha
Texto e fotografias de Aníbal Gonçalves
Publicado no Blog: Frechas
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Pouca-terra, pouca-terra
Afinal a convicção de alguns autarcas (engenheiros!) não está tão sólida como parecia. Pela ideia com que fiquei depois de ler a notícia difundida pela agência Lusa, os autarcas decidiram "avançar com um projecto de planeamento e desenvolvimento do Vale do Tua para criação de riqueza e competitividade"! Quem foi eleito esta semana não foi o Berlusconi? Que estiveram a fazer até hoje?
Somos levados a crer que todos os cenários estão ainda em aberto, mas, ouvindo as palavras "ninguém tem mais legitimidade do que os autarcas, eleitos pelo voto do povo", lembro-me de outras promessas, feitas mas não cumpridas e a um discurso recorrente, ultimamente.
Entretanto... vamos sonhando... pouca-terra, p o u c a-t e r r a...
Fotografia: A "curvas" da Linha do Tua, perto da Brunheda.
Do Blogue: À Descoberta de Carrazeda de Ansiães
terça-feira, 15 de abril de 2008
Pouca-terra, pouca-terra
Pouca terra, pouca terra, ... já se vê ao longe o Castelo dos Pereiros, vamos entrar nos territórios de Ansiães. Nesta terra onde as maias salpicam de amarelo o verde da esperança, paira sobre a linha uma ameaça. Os "cavaleiros nobres" reúnem-se em Ansiães para decidir o futuro de tão poética e selvagem via. Quanto vale? Uma estrada? Um estádio? Um concerto do Tony Carreira? Não se sacrifica um ente querido em troca de progresso. Quem pensa o contrário, pode muito bem ser o próximo sacrificado.
Dia 16 a linha morre... em Carrazeda!
Entretanto, vamos sonhando... pouca-terra, p o u c a-t e r r a...
Do Blogue: À descoberta de Carrazeda de Ansiães
Dia 16 a linha morre... em Carrazeda!
Entretanto, vamos sonhando... pouca-terra, p o u c a-t e r r a...
Do Blogue: À descoberta de Carrazeda de Ansiães
domingo, 6 de abril de 2008
À Descoberta da linha do Tua
Ontem foi dia de mais uma etapa À Descoberta da Linha do Tua e do Rio. Depois da experiência da primeira etapa que me levou do Cachão à Ribeirinha, pensei na melhor maneira de continuar, em direcção ao Tua. Optei por descer parte da linha na automotora, partindo da Ribeirinha e fazer o caminho de regresso caminhando (2). Depois de estudar um pouco a linha, achei que podia caminhar da Brunheda até à Ribeirinha, e foi isso que eu fiz.
O dia estava bonito, sem nuvens, quente, a convidar para o passeio ao ar livre. Pouco depois das 10 da manhã já estava na Ribeirinha.
Estacionei o carro e ainda tive tempo de ir até ao rio tirar algumas fotografias. Às 10:30 chegou a automotora. Transportava 8 viajantes, o condutor, o revisor e um cão. Não era o único interessado em registar as belezas da paisagem em fotografia, havia pelo menos mais três pessoas. Em Abreiro entraram mais 4 pessoas, sem bagagem, com todo o aspecto de viajarem por prazer.
Quase sem dar conta, estava na Brunheda. Desci da automotora e esta continuou em direcção ao Tua. Comecei a minha caminhada de regresso exactamente às 11 horas. Calculei que percorrer o caminho me levasse 2 horas e 3 para tirar fotografias.
Na maior parte do percurso não há caminho e por isso tinha que caminhar pela linha. Onde fosse possível e interessante, deixaria a linha e desceria até ao rio. Também tinha por objectivo fotografar a flora e fauna. O ano corre muito seco e não há muita vegetação. Com as temperaturas amenas que se fazem sentir, há muitas plantas floridas e por isso não me faltariam motivos para fotografar.
Pensei em subir à ponte para ter uma boa perspectiva da linha e da estação, mas desisti, isso ira levar-me bastante tempo.
A primeira coisa que me surpreendeu, foi a quantidade de vinhas que estão a ser plantadas nas encostas do Tua! Havia muitos grupos a trabalhar em novas vinhas. Ao contrário do que se imagina, neste local, há nas duas encostas do rio muitas terras ainda cultivadas. A maior parte são vinhas, mas há também oliveiras e amendoeiras. A segunda, foi a quantidade de ninhos que há nos barrancos da linha.
Tinha andado cerca de dois quilómetros quando me surgiu a primeira açude. Havia ainda as paredes de uma azenha e como o acesso era fácil, desci ao rio. A construção é grande e robusta. As mós ainda lá estão. Estava eu entretido a tentar fotografar o movimento da água quando um melro-da-água (Cinclus cinclu) vei-o investigar-me. Fiquei excitado, é uma ave difícil de fotografar, não desperdicei a oportunidade. Ao longo de todo o percurso observei muitos cágados, alguns enormes. Estão sempre muito atentos e é difícil aproximarmo-nos deles. Também observei algumas garças-reais, perdizes, melros e melros azuis (Monticola solitarius, como eu). Curiosamente não vi nenhuma ave de rapina.
A segunda açude vim a encontrá-la junta à estação de Codeçais. Também aproveitei para descer ao rio e fazer algumas fotografias. Na ombreia da porta da azenha pode ler-se com facilidade os anos de 1879 e 1939. Neste ponto, faz-se a divisão de 3 concelhos: Carrazeda de Ansiães, Murça e Mirandela. Pouco depois de subir à linha, passou a automotora em direcção a Mirandela.
Nesta zona a vegetação é composta por giestas, freixos, choupos, sobreiros e carrascos. Há também algumas estevas, pilriteiros, torgas e gilbardeiras. Os pilriteiros (Crataegus monogyna) estão particularmente bonitos, carregados de flor, branca, miudinha e cheirosa. As plantas anuais e muitas bolbosas também estão em flor, despertando a minha atenção. Isto já para não falar das violetas selvagens que se encontram ao longo do rio, dos pequenos amores-perfeitos selvagens que estão por todo o lado.
Depois de percorrer pouco mais de 5 quilómetros encontrei a primeira ponte. Identifiquei imediatamente o local. Só podia ser a ribeira que atravessa Freixiel a juntar-se ao Rio Tua. Encontram-se à direita da linha, a poucos metros, ruínas de várias casas. Deve ter existido aqui possivelmente alguma quinta. O rio sofre um estreitamento, as águas correm muito agitadas e fazem muito barulho.
Depois de andar 8 quilómetros estava na estação de Abreiro. Já tinha perdido a conta às fotografias, felizmente a bateria ainda estava para durar e, portanto, podia continuar. Após passar uma zona onde o vale é mais aberto, depois da ponte de Abreiro, entra-se na zona mais agreste deste percurso. O rio estreitece de tal forma, que parece ser possível saltar de um lado para o outro.
Depois da Ponte do Diabo, desci pelas fragas para fotografar alguns rápidos do rio. Esta zona é muito perigosa, deve haver poços com muita profundidade e águas muito violentas. O barulho era ensurdecedor.
Nas frestas das rochas crescem violetas e Jacinto-dos-campos (Hyacinthoides hispânica) com cores tão delicadas que são difíceis de fotografar. As águas agitadas do rio pareciam agora de outra cor.
Cada curva do rio, cada curva da linha, abrem horizontes para infindáveis composições de cores e enquadramentos. Dividi-me entre os grandes planos das encostas, a vegetação que ladeia o rio e as curvas preguiçosas da linha. O tempo foi passando e aproximava-me cada vez mais da Ribeirinha.
Entretanto verifiquei que estava quase na hora da automotora passar de novo em direcção ao Tua. Tomei posição num ponto alto e esperei pacientemente. Às 16:50 a automotora passou, permitindo-me mais algumas fotografias.
Pouco tempo depois a violência das águas foi diminuindo gradualmente. O rio alargou-se e surgiram enormes árvores nas suas margens. A Ribeirinha estava perto! Abandonei a linha e segui mesmo junto à água até chegar à aldeia. As águas estavam calmas e os reflexos da folhagem formavam harmoniosos quadros.
Cheguei à estação já eram seis horas. Ultrapassei em duas horas a minha previsão, mas fiz o percurso sem pressas, descendo ao rio várias vezes e tirando mais de 1300 fotografias. Não senti cansaço, apenas alguma fadiga nas pernas e o pescoço a ferver do sol que apanhou. Fazendo o percurso pela linha seriam mais ou menos 12 quilómetros. Com as voltas que dei, não faço ideia quantos quilómetros percorri.
Já sinto muita vontade de fazer o resto do percurso até ao Tua.
Todas as fotografias foram tiradas no troço da linha que percorre as freguesias de Pereiros (Codeçais) e Pinha do Norte (Brunheda). Para ver fotografias de outros partes do percurso (Abreiro e Ribeirinha), clicar aqui.
Para ler e ver as fotografias da 1.ª etapa (Cachão-Ribeirinha), clicar aqui.
Do Blogue: À Descoberta de Carrazeda de Ansiães
Na Linha do Tua - 2
Ontem foi dia de mais uma etapa À Descoberta da Linha do Tua e do Rio. Depois da experiência da primeira etapa que me levou do Cachão à Ribeirinha, pensei na melhor maneira de continuar, em direcção ao Tua. Optei por descer parte da linha na automotora, partindo da Ribeirinha e fazer o caminho de regresso caminhando (2). Depois de estudar um pouco a linha, achei que podia caminhar da Brunheda até à Ribeirinha, e foi isso que eu fiz.
O dia estava bonito, sem nuvens, quente, a convidar para o passeio ao ar livre. Pouco depois das 10 da manhã já estava na Ribeirinha. Estacionei o carro e ainda tive tempo de ir até ao rio tirar algumas fotografias. Às 10:30 chegou a automotora. Transportava 8 viajantes, o condutor, o revisor e um cão. Não era o único interessado em registar as belezas da paisagem em fotografia, havia pelo menos mais três pessoas. Em Abreiro entraram mais 4 pessoas, sem bagagem, com todo o aspecto de viajarem por prazer.
Quase sem dar conta, estava na Brunheda. Desci da automotora e esta continuou em direcção ao Tua. Comecei a caminhada de regresso exactamente às 11 horas. Calculei que percorrer o caminho me levasse 2 horas e 3 para tirar fotografias.
Na maior parte do percurso não há caminho e por isso tinha que caminhar pela linha. Onde fosse possível e interessante, deixaria a linha e desceria até ao rio. Também tinha por objectivo fotografar a flora e fauna. O ano corre muito seco e não há muita vegetação. Com as temperaturas amenas que se fazem sentir, há muitas plantas floridas e por isso não me faltariam motivos para fotografar.
Pensei em subir à ponte para ter uma boa perspectiva da linha e da estação, mas desisti, isso ira levar-me bastante tempo.
A primeira coisa que me surpreendeu, foi a quantidade de vinhas que estão a ser plantadas nas encostas do Tua! Havia muitos grupos a trabalhar em novas vinhas. Ao contrário do que se imagina, existem nas duas encostas do rio muitas terras ainda cultivadas. A maior parte são vinhas, mas há também oliveiras e amendoeiras. A segunda, foi a quantidade de ninhos que há nos barrancos da linha.
Tinha andado cerca de dois quilómetros quando me surgiu a primeira açude. Havia ainda as paredes de uma azenha e como o acesso era fácil, desci ao rio. A construção é grande e robusta. As mós ainda lá estão. Estava eu entretido a tentar fotografar o movimento da água quando um melro-da-água (Cinclus cinclu) vei-o investigar-me. Fiquei excitado, é uma ave difícil de fotografar, não desperdicei a oportunidade. Ao longo de todo o percurso observei muitos cágados, alguns enormes. Estão sempre muito atentos e é difícil aproximarmo-nos deles. Também observei algumas garças-reais, perdizes, melros e melros azuis (Monticola solitarius, como eu). Curiosamente não vi nenhuma ave de rapina.
A segunda açude vim a encontrá-la junto ao apeadeiro de Codeçais. Também aproveitei para descer ao rio e fazer algumas fotografias. Na ombreia da porta da azenha pode ler-se com facilidade os anos de 1879 e 1939. Neste ponto, faz-se a divisão de 3 concelhos: Carrazeda de Ansiães, Murça e Mirandela. Pouco depois de subir à linha, passou a automotora em direcção a Mirandela.
Nesta zona a vegetação é composta por giestas, freixos, choupos, sobreiros e carrascos. Há também algumas estevas, pilriteiros, torgas e gilbardeiras. Os pilriteiros (Crataegus monogyna) estão particularmente bonitos, carregados de flor, branca, miudinha e cheirosa. As plantas anuais e muitas bolbosas também estão em flor, despertando a minha atenção. Isto já para não falar das violetas selvagens que se encontram ao longo do rio, dos pequenos amores-perfeitos selvagens que estão por todo o lado.
Depois de percorrer pouco mais de 5 quilómetros encontrei a primeira ponte. Identifiquei imediatamente o local. Só podia ser a ribeira que atravessa Freixiel a juntar-se ao Rio Tua. Encontram-se à direita da linha, a poucos metros, ruínas de várias casas. Deve ter existido aqui possivelmente alguma quinta. O rio sofre um estreitamento, as águas correm muito agitadas e fazem muito barulho.
Depois de andar 8 quilómetros estava na estação de Abreiro. Já tinha perdido a conta às fotografias, felizmente a bateria ainda estava para durar e, portanto, podia continuar. Após passar uma zona onde vale é mais aberto, depois da ponte de Abreiro, entra-se na zona mais agreste deste percurso. O rio estreitece de tal forma que parece ser possível saltar de um lado para o outro.
Depois da Ponte do Diabo, desci pelas fragas para fotografar alguns rápidos do rio. Esta zona é muito perigosa, deve haver poços com muita profundidade e águas muito violentas. O barulho era ensurdecedor.
Nas frestas das rochas crescem violetas e Jacinto-dos-campos (Hyacinthoides hispânica) com cores tão delicadas que são difíceis de fotografar. As águas agitadas do rio pareciam agora de outra cor.
Cada curva do rio, cada curva da linha, abrem horizontes para infindáveis composições de cores e enquadramentos. Dividi-me entre os grandes planos das encostas, a vegetação que ladeia o rio e as curvas preguiçosas da linha. O tempo foi passando e aproximava-me cada vez mais da Ribeirinha.
Entretanto verifiquei que estava quase na hora da automotora passar de novo em direcção ao Tua. Tomei posição num ponto alto e esperei pacientemente. Às 16:50 a automotora passou, permitindo-me mais algumas fotografias.
Pouco tempo depois a violência das águas foi diminuindo gradualmente. O rio alargou-se e surgiram enormes árvores nas suas margens. A Ribeirinha estava perto! Abandonei a linha e segui mesmo junto à água até chegar à aldeia. As águas estavam calmas e os reflexos da folhagem formavam harmoniosos quadros.
Cheguei à estação já eram seis horas. Ultrapassei em duas horas a minha previsão, mas fiz o percurso sem pressas, descendo ao rio várias vezes e tirando mais de 1300 fotografias. Não senti cansaço, apenas alguma fadiga nas pernas e o pescoço a ferver do sol que apanhou. Fazendo o percurso pela linha seriam mais ou menos 12 quilómetros. Com as voltas que dei, não faço ideia quantos quilómetros percorri.
Já sinto muita vontade de fazer o resto do percurso até ao Tua.
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