Espero ser a última vez que me refiro a este tema da
barragem do Tua. Faço-o por alguns mitos criados e pela ausência de
muitos factos na discussão pública. Utilizo o método de colocar os
quesitos nos dois pratos de uma
balança. Vamos à pesagem.
O que perdemos:
O vale do Tua, ecossistema ribeirinho único na Europa,
ameaçado por esta construção da barragem, acrescido da irreversibilidade da
“perda física” de parte da paisagem, chegando a colocar em risco o estatuto de
Património Mundial da Humanidade.
Trinta quilómetros de via-férrea que garantiam a muitos
carrazedenses transporte para Foz-Tua e Mirandela; uma linha férrea que foi arrojada
obra de engenharia, com grande beleza, apreciada por portugueses e estrangeiros
com alguns milhares de utentes por ano e detentora de grandes potencialidades
turísticas.
Possibilidade de prejuízo para as vinhas durienses com as previsíveis
alterações climáticas e ambientais e destruição efetiva de vinhedos e olivais,
numa região em que metade da população se dedica à agricultura.
O que nos prometem:
Uma agência de desenvolvimento e um parque natural que serão
subsidiados por 3 por cento da receita bruta da barragem, que, na prática são
apenas 2,25%, pois um quarto das receitas irá para o Fundo da Diversidade.
Grande parte dos fundos são para gastos de manutenção das estruturas e se
observarmos o projeto do parque natural é uma mão cheia de muito pouco, com a
agravante de todos os condicionalismos na gestão dos recursos turísticos,
agrícolas, florestais, cinegéticos e piscícolas locais.
Vamos agora às falácias:
Primeira falácia: uma barragem potenciadora de turismo - Pura
falácia a enganar uma população incauta, pois Portugal está cheio de albufeiras
desertas de turistas. No Douro, em termos de projetos turísticos pouco mais se
executou que um ou outro cais e assistimos impávidos e serenos à passagem de
mais duzentos mil turistas por ano sem que mais-valias fiquem na área geográfica.
Segunda falácia: um grande
espelho de água - Como se não nos bastassem os existentes e sem qualquer
benefício! Depois coisas que por aí falam do domínio do sonho e mesmo do
delírio, completamente irreais: muitos barcos (de quem e para quê?), desportos
náuticos (mas não os há nas grandes albufeiras do Douro) transporte fluvial
para Mirandela, (para quem?), campos de golfe (onde?) …
Terceira falácia: a construção das barragens contribui para
a riqueza nacional - As 12 obras previstas que incluem novas barragens e
reforço de outras já existentes inclui uma engenharia financeira tipo
"scut" cujo custo só vamos sentir daqui a uns anos de forma brutal.
As obras vão produzir apenas o equivalente a três por cento de energia elétrica
do país, mas vão custar ao Orçamento do Estado e aos consumidores muitos milhões de euros...
Quarta falácia: energia mais barata - A conta da
eletricidade vai, a prazo, incluir um agravamento de 10% para suportar este
negócio "verde". As empresas elétricas receberão um subsídio
equivalente a 30% da capacidade de produção, haja ou não água para produzir. Quanto
ao denominado Centro eletroprodutor de Foz -Tua terá um incentivo estatal de €
13 000/MW/ano, perfazendo mais de 3 milhões/ano (portaria nº 251/2012 de 20
Agosto).
Quinta falácia: mais desenvolvimento local – As albufeiras
do Douro contribuíram em 40% para a produção nacional de energia hidroelétrica,
tornaram o rio navegável e consequentemente possibilitaram o fluxo turístico,
domesticaram a impetuosidade invernosa do rio diminuindo as cheias na Régua e
Porto e durante muitos anos possibilitaram a energia mais barata na cidade, mas
do Porto. Isto é, somos contribuintes para um bem nacional, que é a energia
elétrica e o turismo, mas o investimento e as mais-valias em termos locais
foram pouco mais que zero. A eletricidade tem o mesmo preço do resto do país
com a agravante de possuirmos uma das piores redes de distribuição com cortes
constantes. O Douro continua a ser a região do país com piores índices de
desenvolvimento.
Sexta falácia: a EDP está interessada no desenvolvimento - A
empresa é detida maioritariamente por interesses chineses. A história demonstra
que esta elétrica sempre explorou o mais que pôde, utilizando a violência do
Estado para expropriar de qualquer maneira a preços ridículos e dar pouco em
contrapartidas.
Sétima falácia: O projeto Souto Moura trará mais visitantes à região - O
projeto consiste em enterrar parte da infraestrutura que ninguém verá,
mas a linha de muito alta tensão não pode ser escondida, produzindo um
forte impacto na paisagem da região.
"Concluo que nenhuma compensação financeira pagaria as
perdas. Porém, as contrapartidas são pouco mais que nada: uma diminuta produção
de energia que não é relevante para o total nacional e uma mão cheia de nada
para a região que vê degradar os seus principais recursos: o ambiente e a
paisagem e que nenhum projeto de Souto Moura há de mascarar."
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Texto transcrito na integra do blogue Pensar Ansiães.
Texto transcrito na integra do blogue Pensar Ansiães.